terça-feira, 13 de julho de 2010

ARTES NO ABANDONO



A cultura tem neste País, e Salvador não é exceção, um tratamento de terceira classe. Segundo o advogado Rodrigo Moraes, especialista em direitos autorais, ela é "o supérfluo do supérfluo" no julgamento de gestores públicos estaduais e municipais. Descaso e abandono condenam o acervo público de artes plásticas ao vandalismo e deterioração.

Monumentos, murais, esculturas, painéis, tudo quando é criado para contemplação estética e fixação da memória coletiva, em espaços públicos e privados, está pichado, escoriado, adulterado ou em parte destruído. Não há política de manutenção. A falta de eventos relacionados à conservação de obras de arte aumenta por elas o alheamento popular.

Murais e esculturas são encomendados a artistas e logo entregues à orfandade, em recintos fechados ou a céu aberto, para decoração e relevo de ruas, praças e ambientes. Mais por espírito de benemerência e menos por amor às artes, gestores se aproveitam da atitude de desapego material do artista, guardadas algumas exceções, para adquirir obras, instaladas em atos festivos e desde então esquecidas.

Autoridades do Estado e do município se esmeram em justificativas. O diretor do Instituto do Patrimônio Artístico e Cultural da Bahia (Ipac) , Frederico Mendonça, alega "outras demandas". Marco Antonio da Rocha, da Fundação Gregório de Mattos (FGM), se refere a "uma política de prioridades". Que demandas, que prioridades? O que ressalta é a postura de descaso do poder público atual pelas artes e, por extensão, pela cultura.

A TARDE mostrou em reportagem valiosas obras de arte degradadas, em hospitais, escolas, secretarias de Estado ou do município e logradouros públicos. São painéis ou esculturas de ícones das artes plásticas baianas modernas, como Juarez Paraíso, Carybé, Calasans Neto e outros. Ao todo, 144 peças, conforme censo municipal, e delas um terço em avançada decadência. Uma afronta à cultura baiana, aos mais comezinhos princípios morais dos artistas.

Editorial Jornal A Tarde - 13.07.2010.


6 comentários:

Bípede Falante disse...

É um país muito ignorante e muito descuidado esse nosso.

Anônimo disse...

Ivonete, vou chover no molhado, mas só se reverte isso investindo pesado em educação. Eis uma possível prioridade que, sabemos, não sai do discurso político.

Moniz Fiappo disse...

Concordo com Bípede e Chorik. Mas se nós, pobres mortais, aqui de fora do poder, sabemos isso, porque os políticos profissionais não sabem?

Edu O. disse...

Não tenho nem mais o que falar. Dá revolta!

aeronauta disse...

Realmente, é revoltante mesmo. Abraços, Ivonete.
P.S.: Gostaria muito que você fosse ao lançamento do nosso livro (meu e de Mônica) no Tom do Saber...

Terráqueo disse...

Ivone,

Infelizmente o Brasil inteiro está assim. Os painéis da Dijanira em pleno Palácio Capanema, ícone da arquitetura moderna, no centro do Rio de Janeiro, transformaram-se em mictório. Todos os dias passo pela rua, e escorre urina das paredes, enquanto os turistas fazem cara feia.
Abraço