Enquanto mais de 11 milhões de pessoas, em todo o País, passam fome, a Secretaria da Agricultura e Reforma Agrária (Seagri) do Estado da Bahia doa 600 quilos de carne e verduras a cerca de três mil militantes do Movimento dos Trabalhadores Rurais sem Terra (MST).
Os militantes ocupam desde segunda feira, 11, a área externa do orgão, onde foram recebidos não por seguranças instruidos a vigiá-los e talvez contê-los, senão por dirigentes da própria Seagri, imbuídos da maior boa vontade. O alimento, asseguram eles, está garantido enquanto durar mais esse assentamento em órgão público. Não há prazo previsto para a desocupação, e naturalmente os beneficiados não aparentam pressa.
Faltou apenas o tapete, que, para combinar com a cor acentuada pelo MST neste mês de abril, deveria ser vermelho. Este ano o Abril Vermelho já ocupa na Bahia 39 fazendas, disposto a não arredar o pé enquanto uma pauta de 15 reivindicações não for atendida pelo governo estadual. Em Juazeiro invadiu terras de agricultura familiar.
Em contraponto a esta situação na Bahia, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) revelou em novembro passado as desditas de alto número de brasileiros. De acordo com levantamento sobre segurança alimentar, em 2009, a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) aponta 2,9 milhões de residências com 11,2 milhões de pessoas, entre adultos e crianças, abaixo do nível alimentar mínimo.
Para o coordenador do movimento na Bahia, Márcio Matos, a oferta de carne, legumes, sanitários químicos e lona para barracas, tudo adquirido com dinheiro público, é normal, é "obrigação do Estado (...) alimentar os trabalhadores". Mas o eleitor, quando entra na cabine de votação, não imagina, decerto, que dinheiro do bolso dele será gasto com quem invade propriedades produtivas e órgão públicos. E em troca encontra farta alimentação gratuita. Se consultado, o eleitor diria sem titubeios que a doação é imoral e criminosa.
Editorial do A Tarde em 13.04.2011
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