terça-feira, 25 de janeiro de 2011

A PONTE, O TRÂNSITO E O CAOS URBANO

Milton Cedraz
Engenheiro agrônomo, técnico em desenvolvimento
econômico pela Cepal/ONU
Salvador nos transmite uma nítida impressão de que, a qualquer momento, poderá ficar paralisada. A sensação de caos nos assola a todo instante. O pior é que vem se confirmando pela crise de gestão administrativa, financeira e política, que se aprofunda a cada minuto. É assustadora a perspectiva que se vislumbra! Espigões e equipamentos urbanos de toda a sorte pipocam por todos os lados! Veículos são despejados diariamente, em número cada vez mais crescente, sem que se preparem as vias de tráfego para recebê-los.
Algo terá que ser feito, urgentemente. Temos um compromisso assumido com a comunidade internacional para realizarmos uma Copa de Mundo e uma Olimpíada. Esta última, menos mal para Salvador, mas e a Copa? Afinal, Salvador é a sede de jogos e se está a construir um monumental estádio! Os governos, estadual e federal, têm compromisso e grande responsabilidade no caso! Vai-se precisar de quatro coisas: vontade, desprendimento, criatividade e capacidade gestora.
Ganhar eleição ou não pode estar na raiz desse problema. Sem que se acertem, Prefeitura, Estado e União, nada se fará adequadamente e nos prazos. A participação do setor privado é crucial. A ponte Salvador-Itaparica pode ser um equipamento relevante, mas talvez careça de uma definição do seu custo de oportunidade.Isto perpassa por urgentes estudos econômicos, urbano e ambiental. Os investimentos que se estão materializando para a região cacaueira e as necessidades de sua integração com a Região Metropolitana de Salvador têm que ser relevados.
Por outro lado, o trânsito, o transporte de massa e o ordenamento urbano da cidade necessitam de imediatas definições conjuntas entre os tres governos. Mesmo que se decida por um sistema emergencial, é indispensável uma abordagem sistêmica que envolva o transporte de massa, consubstanciado na revisão e atualização do Plano Diretor de Transporte da Região Metropolitana, em especial para Salvador.
Neste caso, a análise do VLT, como solução definitiva é crucial. Principalmente para consolidar a interligação dos corredores de transporte do centro e estádio, com aeroporto, suburbana, subúrbios ferroviários, rodoviários e cordão da praia. E ainda de um sistema de transporte, escorado no modelo intermodal, que inclua a interligação, com transporte urbano alternativo, com base em vias de transporte paralelas (teleférico e via náutica) com base nas indispensáveis e urgentes análises de viabilidade econômica e social, principalmente para atrair investimentos privados.
Para isso, é preciso despir preconceitos ideológicos. Nesse sistema está também a inclusão social na medida em que a população de menor renda possa facilmente circular, tanto horizontal como verticalmente, nas diferentes ocupações desordenadas, principalmente aquelas situadas nas colinas e encostas. Por sinal, estas requerem urgentes ações preconizadas pelo seu Plano Diretor de Encostas e a urgente conclusão do Plano Municipal de Saneamento Básico, em especial o de Drenagem Pluvial, pois as chuvas vêm aí!
Deve-se cogitar, para o futuro, a transferência do porto de cargas, em especial de contêiner, para Aratu e o de passageiros, remodelado, com a construção de uma moderna estação dotada de fingers climatizados, interligada com a aduana e a teleféricos. Estes, para transportarem turistas diretamente ao Centro Histórico e às hospedarias. Alguns dos seus atuais galpões, devidamente reestruturados, poderiam abrigar "shopping malls", e o restante demolido, para integrar ao mar, a Avenida da França. O Centro Histórico deveria ser devidamente reestruturado, propiciando efetiva e permanente segurança, livre do assédio de ambulantes. Seus estabelecimentos e atendentes, devidamente capacitados e fiscalizados, pelas organizações do turismo estatal, com base em marco regulatório próprio. Dessa forma, será de fato possível se estar preparado para o crescimento urbano ordenado da cidade e do município e demonstrar nossa capacidade gerencial e bom nível de civilização. Com a palavra o baiano Ministro das Cidades!
Mal tinha acabado de postar o comentário indignado hoje sobre a cidade, quando lí este artigo no Jornal A Tarde. Ví então que, idéias existem, soluções estão sendo apresentadas de público. O que falta é tão somente vontade de fazer, de trabalhar as questões complicadas e resolvê-las. Pode-se até não concordar com estes planos ou outros que se apresentem, o que não pode é o que nesta cidade vemos: as autoridades se desentendem, se fecham em casulos, cada qual com seu cada qual, e a cidade que se lenhe ( em bom e vulgar baianês).

Um comentário:

Bípede Falante disse...

Porto Alegre também está em crise e tem um rio, mas um rio nunca será um mar :(