sábado, 19 de março de 2011

Passageiro de última hora, pulou no meu barco e seu sorriso iluminou a viagem como a lua dos amantes. Sua pequena bagagem foi acomodada sem sustos, afinal não eram esperados temporais nessa época. Sem cerimônias, enrosquei-me como sereia (será que foi a mãe-d'água que me mandou?) e deixei o rumo à deriva.
No decorrer do navegar, as coisas foram mudando: a pequena mala começou a pesar demais, fedia. Seus movimentos eram muito bruscos e desequilibrava a embarcação. Sua presença virou a maré, o vento cessou, o leme partiu, o horizonte se apequenou. O barco já não cabia nós dois. Cada um sabia e antes que a tempestade anunciada se estabelecesse, fiz o que era de lei: devolví à mãe d'água aquele falso presente, como ela faz de vez em quando no dia 2 de fevereiro.
Sereia - Obra de Americo Azevedo
Foto I.Moniz Pacheco

5 comentários:

Anônimo disse...

A vida é esse navegar, ora em águas calmas, ora em turbulentas, os amores vindo e indo, vindo e indo...

Lucia Alfaya disse...

Ah! como seria bom poder devolver ao mar alguns dos tijolos que a vida nos empresta para construir as paredes que protegem a nossa solidão...

Moniz Fiappo disse...

Cho,
Navegar é preciso. Bj

Moniz Fiappo disse...

Lucia,
Estou tentando desenvolver essa prática, com muito exercício e reflexão. Bj

Bernardo Guimarães disse...

Navegar é preciso, víver, mais ainda!!! O texto é lindo e a sereia, me lembra sempre a Iara.
Brigado pela força para manter Juvenal comigo. Sua opinião é fundamental, vc sabe
Bj tb.