segunda-feira, 24 de agosto de 2009

A metamorfose do PT

O PT nasceu de cesariana. O pai foi o movimento sindical e a mãe, a Igreja Católica, através das Comunidades Eclesiais de Base. Os orgulhosos padrinhos foram, primeiro, o general Golbery do Couto e Silva, que viu dar certo seu projeto de dividir a oposição brasileira. Da árvore frondosa do MDB nasceram o PMDB, o PDT, o PTB e o PT. Foi um dos únicos projetos bem-sucedidos do desastrado estrategista que foi o general Golbery.
Outros orgulhosos padrinhos foram os intelectuais paulistas e cariocas, felizes de poder participar do crescimento de um partido puro, nascido na mais nobre das classes sociais, segundo eles: o proletariado.
O PT cresceu como criança mimada, manhosa, voluntariosa e birrenta. Não gostava do capitalismo, preferia o socialismo revolucionário. Não queria chegar ao poder, mas denunciar os erros das elites brasileiras.
O PT lançava e elegia candidatos, mas não "dançava conforme a música". Não fazia acordos, não participava de coalizões, não gostava de alianças. Era uma gente pura, ética, que não se misturava com picaretas.
O PT entrou na juventude como muitos outros jovens: mimado, chato e brigando com o mundo adulto. Mas nos estados, começava a ganhar prefeituras e governos, fruto de alianças, conversas e conchavos. Assim, petistas passaram a se relacionar com empresários, empreiteiros, banqueiros. Tudo muito chique, conforme o figurino.
Em 2002 o PT ingressou na maioridade. Ganhou a presidencia da República. Para isso, teve que se livrar de antigos companheiros, amizades problemáticas. Dispensou convicções e amigos de fé, irmãos camaradas.
A primeira desilusão se deu entre intelectuais. Gente da mais alta estirpe como Francisco de Oliveira, Leandro Konder e Carlos Nelson Coutinho se afastou do partido, seguida de Plínio de Arruda Sampaio Júnior. Depois foi a vez da esquerda. Expulsa, Heloísa Helena levou junto Luciana Genro e Chico Alencar, entre outros, para fundar o PSOL.
Os militantes ligados à Igreja Católica também começaram a se afastar, primeiro aqueles ligados a Chico Alencar. Em seguida Frei Betto. E agora, bem mais recentemente, o senador Flávio Arns, de fortíssimas ligações familiares com a Igreja Católica. Os ambientalistas, por sua vez, começam a se retirar a partir do desligamento da senadora Marina Silva do partido.
Afinal, quem do grupo fundador ficará no PT? Os sindicalistas. Por isso é que se diz que o PT está cada vez mais parecido com o velho PTB de antes de 64.
Controlado pelos pelegos, todos aboletados nos ministérios, nas diretorias e nos conselhos das estatais, sempre nas proximidades do presidente da República. Recebendo polpudos salários, mantendo relações delicadas com o empresariado. Cavando benefícios para os seus.
Aliando-se ao coronelismo mais arcaico, o novo PT não vai desaparecer, porque está fortemente enraizado na administração pública dos estados e municípios. Além do governo federal, naturalmente.
É o triunfo da pelegada.
Lucia Hippolito, cientista política, historiadora e jornalista. Jornal A Tarde de 22.08.2009.
Não gosto muito de discutir política partidária, sobretudo neste país onde tudo parece ter virado de cabeça para baixo, porém esse artigo me parece tão pertinente e oportuno, que não pude me furtar de dividí-lo com quem passar aqui no meu blog. Parabéns Lúcia Hippolito pela análise objetiva e inteligente.

3 comentários:

Anônimo disse...

Gostar de discutir polítca partidária, ninguém gosta Ivonete. Mas é fundamental para a sobrevivência do país. Estamos mergulhados em uma lamaceira sem precedentes. Desta vez não estamos sob a mira de uma arma, sob ameaça de morte. Não estamos sequer sem a informação. Estamos acomodados e coniventes ou será que perdemos a esperança?

imonizpacheco disse...

Prezado Chorik
Estou desesperançosa. As pessoas ou estão apáticas, ou dizem é assim mesmo, ou são radicais na defesa do indefensável.

Edu O. disse...

tia, um jovem que acorda nessa situação de agora não acredita que está se falando do mesmo partido. Que história triste! que decepção! obrigado por este momento que me proporcionou, pois não temos tido o direito de rever essas coisas, de ouvir os intelectuais que se calaram.
Tudo isso me dá pena de Rudá, pois não saberemos que esperança lhe dar.