terça-feira, 3 de agosto de 2010


AUSÊNCIA

Hei de levantar a vasta vida
que ainda agora é teu espelho:
cada manhã hei de reconstituí-la.
Desde que te afastaste,
quantos lugares se tornaram vãos
e sem sentido, iguais
a luzes do dia.
Tardes que foram nicho de tua imagem,
músicas em que sempre me aguardavas,
palavras daquele tempo,
eu terei que quebrá-las com minhas mãos.
Em que ribanceira esconderei minha alma
para que não veja tua ausência
que como um sol terrível, sem ocaso,
brilha definitiva e desapiedada?
Tua ausência me rodeia
como a corda à garganta.
O mar no qual se afunda.

Jorge Luis Borges

Foto e tela I.Moniz Pacheco

4 comentários:

Anônimo disse...

Amiga Ivonete, nada perturba tanto como a presença da ausência.

aeronauta disse...

Oi, Ivonete, seus trabalhos sempre tão lindos dialogam tão bem com os textos!

Edu O. disse...

Tia, isso lembra o meu espetáculo Odete, traga meus mortos. É sobre essas ausências concretas, presentes, duras que ele fala.

E meu último post... foi por isso q larguei artes plásticas e cai na dança. dancei de qualquer jeito. rs

Bípede Falante disse...

Ivonete, apenas um vulto, e a gente sente a força e a existência. Muito bonito. Muito expressivo.