domingo, 24 de julho de 2011

ARTE E PERMANÊNCIA

Todo grande artista, que tem a noção exata do seu trabalho, sonha com a imortalidade. Em todas as áreas das artes. Preocupam-se com isso, com o legado que deixará. Sempre. Desde Leonardo da Vinci, Michelangelo Buonarroti, Goya, Velásquez, passando por Renoir, Cézanne, Matisse, Picasso, De Chirico, Monet, Miró, Paul Klee, Duchamp, Rauschenberg, Joaquín Torres-Garcia, Joseph Beuys, Calder, Munch, Mondrian, Jesús Soto, Pollock, Alberes, Malevich, Klein, Christo, Warhol, Jasper Johns, Mark Rothko e tantos outros. Pensaram, escreveram suas idéias, debateram à exaustão. Pode-se citar uma enorme lista de artistas cujos registros fazem parte da história da humanidade. Isto por séculos. O planeta Terra tem 6.477 bilhões de habitantes e milhões de artistas passaram a vida ou vivem no presente produzindo. Quantos são realmente lembrados? A produção humana tem ciclos, épocas, interesses, preconceitos e os que se mantém como referencia, verdadeiros inventores de escolas e mundos visuais, são pouquíssimos.

Fica como postulação: a tendencia natural de artistas é o esquecimento.

Pequenas reflexões podem caber: o Impressionismo, escola que se originou na França a partir de 1860, foi disseminada por toda a Europa e centenas de pintores aderiram ao movimento. Quantos ficaram marcadamente na história? Talvez quinze. Dos milhões de artistas visuais do planeta, sem consultar enciclopédias, quem se lembra de 1.500? O maior crítico da arte é o tempo.

Infelizmente, talento não garante sobrevivência. Exemplo lapidar foi Van Gogh que, em vida, vendeu uma única pintura ao irmão Theo, e suicidou-se aos 37 anos. Hoje, um quadro de Van Gogh é vendido por milhões de dólares.

No Brasil, a coisa parece ainda bem mais difícil. Temos uma população de quase 200 milhões de habitantes, e estimam-se 900 mil artistas, falecidos ou em produção. Na história do planeta, parece que nenhum brasileiro faz parte do seleto grupo de estrelas mundiais. A América Latina produziu artistas seminais, que estão nos principais museus do mundo, leilões e galerias de prestígio, e são procurados por colecionadores para enriquecerem seus acervos.

Não é que no Brasil não haja artistas extraordinários. Mas mecanismos que não são claros ainda não permitiram um nome de grande trânsito internacional. Nos leilões da Sotheby's para a América Latina surgem alguns nomes do Brasil, que são adquiridos por marchands brasileiros. Temos nomes luminares, de grande poder investigativo e produção de alto padrão. Podemos citar dois nomes pioneiros no mundo am Arte Cinética, sendo amplamente notificados por suas invenções, como a mineira Mary Vieira, em 1948 (Araxá/MG), que criou esculturas cinéticas, movidas eletronicamente. Em 1950, transferiu-se para a Europa, inicialmente na Alemanha, depois na Suiça, quando foi professora de Estruturação Espacial na Universidade de Brasil. Muitos brasileiros nem a conhecem. Outro, Abraham Polatnik, nascido em Natal (RN), transferiu-se para o Rio de Janeiro em 1950, já fazia esculturas e objetos cinéticos. Recebeu, na I Bienal Internacional de São Paulo de 1951 menção especial do júri internacional. Hoje, vive no Rio e tem 83 anos de idade. Nem o pioneirismo dos dois os fez artistas de transito internacional, mas estão em registros históricos em todo o mundo.

Ainda podemos citar Hélio Oiticica, Lygia Clark, Lygia Pape, Alfredo Volpi, Rubem Valentim, Ivan Serpa, Raimundo Colares, Portinari. Questiona-se por que não temos brasileiros de mercado universal. Não há respostas claras. Em salões oficiais, certames de artes, panoramas, bienais, selecional é excluir. A ilusão de permanência é um fato ligado ao imaginário dos artistas. Cabe a cada um construir sua história em pessoalidade para que valha a pena a aventura humana. Tansitar idéias e organizar o caos, expressar sentimentos, valores, fatos de sua época. Assim, talvez, um dia, a ilusão de permanência possa se transformar em realidade palpável.

César Romero

Artista Plástico e crítico de arte ABCA-AICA

3 comentários:

Lucia Alfaya disse...

Assino em baixo, viver de arte no Brasil é muito difícil e talento não é a única moeda que vale nesse mercado, infelizmente.

Nilson disse...

Penso da seguinte forma: faço porque preciso. Ouvi no rádio outro dia que o lema de uma grande artista era o seguinte: arte é sobrevivência. Então comamos o pão de cada dia, e que a posteridade seja um bônus que de qualquer forma não compartilharemos!

Moniz Fiappo disse...

Lucia e Nilson,
Comentários absolutamente pertinentes e eu também concordo.